Não sou uma pessoa que costuma
envolver-se em polêmicas ou declarar seus posicionamentos de forma
ferrenha, pois acredito na palavra “Democracia” em toda a sua extensão e
profundidade. Entretanto, diante de alguns – para não dizer centenas -
de comentários que li via twitter, decidi escrever essa carta.
No último
dia 31/10, dia em que o Brasil votou e elegeu a sua primeira presidente
mulher – um avanço para o nosso país- os nordestinos foram extremamente
desrespeitados e discriminados por terem sido os protagonistas do
resultado eleitoral nacional. Comentários como “pessoas sem
esclarecimento”, “sem acesso a informação”, “alienadas” foram
difundidas, em pleno século XXI, apregoando uma ideia ridícula de
segregação do norte e nordeste, em relação ao resto do país.
Para
surpresa de alguns desinformados que twitaram tais absurdos, nós
nordestinos conseguimos ler, fato que alguns julgaram impossível, pois
acreditavam que no nordeste “ninguém sabia nem o que era twitter”.
Engraçado é que muitos nordestinos acessam o twitter, o orkut, o
facebook e os seus blogs, a partir de notebooks, netbooks, Iphones e
Smartphones que, pasmem, nós sabemos o que é cada ferramenta dessa e
trabalhamos a ponto de ter acesso a comprá-los, inclusive através dos
websites do sudeste. É... os correios também atendem à região
nordeste...
Além disso,
escrevo de uma cidade do interior paraibano – Campina Grande- situada
entre as nove cidades tecnológicas do mundo, segundo a revista NewsWeek
(vide:
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=7202)., exportando tecnologia da informação para países, como Espanha, EUA e China.
Ademais,
somos a primeira cidade do Brasil a dominar a tecnologia do plantio de
algodão colorido ecologicamente correto. Vivemos num estado, assim como
todos, com uma indiscutível má distribuição de renda, fato que não
impede que campus de universidades particulares e públicas ofereçam
oportunidades de acesso ao ensino superior a todas as classes sociais.
Dentro dessa
desigualdade social, ferida aberta em todos os grandes centros urbanos,
vemos shoppings (é... nós temos shoppings no nordeste) oferecendo
produtos que apenas uma parte da população pode ter acesso, contrastando
com casas paupérrimas . Vemos as simples bicicletas, meio
de transporte ultimamente eleito como o melhor para o meio ambiente,
disputarem espaço com grandes carros de empresas estrangeiras, a exemplo
da Hyndai, Honda, Kya, bem como com carros mais populares, produzidos
pela Fiat, Chevrolet, e Volkswagen. É... aqui já faz algum tempo que a
carroça deixou de ser o principal meio de transporte.
O que mais
me assusta é que, diante de pessoas que se declaram tão superiores e
esclarecidas, nós nordestinos demonstramos mais poder de decisão e
escolha, pois não nos guiamos pelas opiniões alienantes e oligárquicas
difundidas pelos principais meios de comunicação nacional. Fato
que também deve estarrecer os mais desinformados, pois nós aqui temos
televisão, inclusive de plasma, LCD e de LED, e recebemos os sinais das
principais redes de televisões do Brasil, sem falar que nos mantemos
informados também através de tvs à cabo – mais de uma empresa? – pois
é... isso pode ser um tanto quanto impactante para alguns habitantes da
parte inferior do nosso mapa brasileiro.
O que
observamos é que o Brasil, nesses últimos quatro anos, assistiu a uma
expansão do ensino superior, a uma diminuição da miserabilidade do país,
a uma estabilidade econômica e a uma descentralização da distribuição
de recursos federais, e isso foi determinante, acredito eu, para a
escolha verificada com tanta revolta por alguns. A demagogia, o
autoritarismo, os sorrisos forçados, a imagem da oligarquia não satisfaz
mais a um povo que já sofreu muito com a falta de um olhar de
credibilidade para a nossa região.
E para
aqueles que não acompanharam muito de perto os resultados eleitorais por
região, os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, localizados na
região Sudeste, também elegeram a candidata petista.
Apesar da grande
votação da candidata petista na região nordeste, essa decisão não foi
tão unâmime como todos pensam, pois em Campina Grande, repito, na
Paraíba, o candidato José Serra teve mais de 60% dos votos. O que prova que democracia é uma palavra que, além de exigir respeito, é imprevisível.
Por
tudo isso, venho com todo o meu sentimento de pesar, pelos comentários
lidos, não defender um candidato ou outro, mas defender o povo
nordestino que possui o direito de votar, bem como todas as demais
regiões possui, e esclarecer, àqueles que acreditam em sua superioridade
de reflexão e tomada de decisões, que os nordestinos não são a escória
do Brasil, mas que contribuímos economicamente com o nosso país e
merecemos receber em troca investimento e respeito.
Aconselho também, a tais pessoas e às que pensam como elas, a conhecer o
Brasil como um todo, antes de denegrir as pessoas, baseados em
informações frágeis e opiniões preconceituosas. Quem não conhece o
nordeste, não acredite em tudo que é veiculado pela televisão: venha
aqui e se encante!
Andrea Grace
(Nordestina, paraibana e mestranda em letras
pela Universidade Federal de Campina Grande)